Sejamos razoáveis, todos temos fases. E não somos muito mais do que consequências das acções dos outros, vivemos sob essa ameaça. Temos um temperamento demasiado sujeito a algo que não podemos controlar, o que jamais poderá ser saudável. Por isso convém sempre guardar um bocado de vontade no bolso de trás, só para o que der e vier. Somos constantes na inconstância de nunca saber ao certo o que nos paira na cabeça, e o que nos espera no dia seguinte, e no seguinte. "É só mais um dia mau."
Lembro-me de atravessar as ruas de Lisboa só com música nos ouvidos, nem ouvia os passos de todas as pessoas que me cruzavam a sombra. Gostava de observar os hábitos. Na rua estão todos alheios ao que se passa, com a cabeça noutro sítio. Muito além. Mas todos têm uma história diferente para contar se quisermos perguntar. E adorava imaginar as vidas de todos. Só naquela observação sucinta, gostava de me recriar em histórias sem fim. E vivia muito assim. Tinha muitos sonhos, e sobretudo muitas vontades. De conhecer sítios e gentes diferentes.
Há que medir o que nos cabe nas mãos. Porque a idade não nos espera mais à frente, enquanto recuperamos fôlego do último atraso que tivemos. Vivemos assentes no imprevisto, a mim é isso que me move. O imprevisto.