sábado, março 20, 2004
Caminhante Erróneo

Sozinho, através da noite, sigo um trilho que aparentemente me leva a lugar nenhum. Sou um caminhante erróneo. Gasto a sola dos meus pés a seguir uma estrada a que chamam de vida, uma estrada ziguezaguiante, pelo menos a minha assim o é. Pois ao olhar de relance para estradas paralelas à minha, não vejo qualquer angústia na cara de quem as constrói e prossegue. Gostava de tentar perceber porque é que tomo sempre a estrada errada quando me tenho de decidir num cruzamento, numa escolha... Dá vontade de deixar andar e de não ter qualquer tipo de preocupação, independentemente da situação.

Caminho mudo, sem ninguém a meu lado a quem eu possa expressar uma sensação ou pensamento precepcionados num determinado momento, limitando-me a experienciar uma vida transitória com base num passado indubitávelmente obscuro, onde tudo me é solidão. O barulho constante das minhas passadas no chão vai-se tornando ensurdecedor, mas ao mesmo tempo banal, visto que já há muito tempo que estou condenado ao abandono, e tenho de me conformar em caminhar num silêncio arrepiante. Vivo os meus dias de emoções perturbadas, acontecimentos passados e desejos inconcebíveis, a tentar reencontrar-me no meio da confusão que vai na minha mente. Não dando a mínima importância a nada, já não encontro motivação, neste poço vazio que se ameaça tornar a minha alma, para vingar na vida e dar o rumo certo à já tão calcada estrada. A única coisa por que anseio é o seu fim, não há outro modo de tomar uma rota triunfante. Só queria que tivesses ficado por mais um tempo, mas é um querer em vão, como tudo na minha vida.


"Por querer mais do que a vida
Sou a sombra do que eu sou
E ao fim não toquei nem nada
Do que em mim tocou"
Ornatos Violeta

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pelo Miguel às 1:02 da manhã | aqui |


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