segunda-feira, maio 30, 2005
Dá-me ar

Por entre danças e passos trocados julgamos ter o mundo na mão.
Iludidos pela mesma história de sempre. Um sorriso cativante leva a um querer estrondoso. Um olhar que perfura a alma mais sisuda, revolve sentimentos outrora trancados num baú de rimas perdidas. Mãos entrelaçadas que prometem mundos e fundos, saudade, dão segurança, desaceleram o ponteiro dos minutos, fecham os olhos e engendram outro cenário, mas as mesmas pessoas. Conversa despropositada. Monossílabos. Olhares próximos. Olhares fixos. Um riso. Os olhos fecham-se, mas os pensamentos cruzam-se. Será que pensamos no mesmo? Eu queria que fosse assim para sempre, não querias? Não fiz a pergunta, mas espero a resposta.

Uma história para recordar. O cheiro. O respirar. O calor nas mãos. O conforto de um abraço brando. Os corpos unos. Recorda-se um dia, numa noite qualquer. Com música. Com uma folha pautada, uma caneta, enquanto se engole a brisa ao relento. Fecho o caderno. Lençóis. Almofada. Abro agora o imaginário e dou azo às paredes para me absorverem, agora brinco com as palavras e dou-te porquês, para que entendas a dimensão dos meus sentidos. As outras palavras, as letras, ficaram vincadas numa folha, para relembrar.

Porque sou feito de memórias, vivo delas. E rejeito o hoje.

Etiquetas:

 
pelo Miguel às 12:27 da tarde | aqui | 9 comments
segunda-feira, maio 23, 2005
As paredes têm ouvidos

Estou num corredor largo e sem beco. Corro desenfreadamente, mas nunca acaba.. ao fundo, sempre a mesma luz intensa e brilhante, que ofusca, como se guardasse lá algo precioso demais para ser visto.
As paredes. As paredes é como se possuíssem sentidos. Fixam-se em mim. - “Vives demais as pessoas” - , murmuram.. A cabeça tolda desamparada, e os meus olhos fecham-se. Apetecia diluir-me naquelas paredes. Olhos de cal, mãos de cal, perderia sensibilidade, e ficava simplesmente a ver as pessoas a passarem, conhecia-lhes a rotina, os tiques, as roupas.

No chão estão pedaços irregulares e disformes de papel – “alguém os rasgou” – penso eu. As paredes segredam-me – “são os teus sonhos” - . De facto, o papel, a escrita, sempre foi uma maneira de transcrever os meus sonhos, e uma vez rasgado, implica um sonho desfeito.

Encosto-me à parede, e deixo-me escorregar, fico ao nível dos papéis. Eram sonhos tão bonitos, talvez seja isso, eram bonitos demais.

Etiquetas:

 
pelo Miguel às 9:14 da tarde | aqui | 8 comments
sexta-feira, maio 20, 2005
Afasta

O tempo afasta as pessoas. Cliché. E quem não gostas de usar clichés?
E o tempo corre, e se pomos um pé antes do outro, ele escapa-nos, e blasfemaremos tudo o que sabemos e não sabemos. Esfuma-se por entre os nossos dedos, impotentes, talvez surpresos, vemos os dias a passar sem motivo de lembrança, não entregamos palavras ao desabafo, oferecemos palavras ao silêncio e ao choro descompassado. Sobretudo, camuflamos sentimentos, despercebidos por sorrisos tenuemente suportados e conversas curtas. Perceptível? Talvez.
E sim, pluralizamos o singular.



Sabes que mais? Dói. Dói quando à noite quero fechar os olhos, e a única imagem que me surge é aquela que me faz chorar.

Etiquetas:

 
pelo Miguel às 9:59 da tarde | aqui | 10 comments
terça-feira, maio 17, 2005
Infiel

Mantenho-me infiel.

Dificilmente aprenderei a viver caminhando sobre os estilhaços que vou quebrando, atitude atrás de atitude, eu próprio me vou despedaçando, multiplicando em vão as minhas mil e umas facetas de quem quer mais do que o mundo.

Cosi as mãos à boca, na esperança de então obstruir as mais directas vias de expressão.

Mas o sentir é-me inerente, e por mais que me feche a sete copas, acabo sempre por me corroer por dentro, onde as imagens perduram, e onde as palavras ficam cravadas como fogo no ferro.

E repetindo-me todos os dias, recrio todo o cenário, e volto a captar os mesmos sorrisos, que resplandecem, cansativos, na magia altiva das memórias bonitas.




I’ve got these feelings and I don’t know why..

Etiquetas:

 
pelo Miguel às 2:13 da tarde | aqui | 9 comments
quarta-feira, maio 11, 2005
Would you stop me, if I try to stop you?

Of all I knew, her held too few
And would you stop me, if I try to stop you?

Old songs stay 'til the end
Sad songs remind me of friends
And the way it is, I could leave it all..
And I ask myself, would you care at all?

When I drive alone at night, I see the streetlights as fairgrounds
And I tried a hundred times to see the road signs as Day-Glo.

Old songs, stay till the end.
Sad songs, remind me of friends.
And the way it is, I could leave it all..
And I ask myself, would you care at all?



Mogwai, Cody


Tenho adormecido com esta música ultimamente. Letra simples e especial.

E se fossemos todos um grupo de insensíveis, que só batalhavam para a sua realização pessoal e bem-estar?
Passei estes dias sem obrigações de escrever aqui, reflecti. Senti-me como se não fizesse parte deste mundo, de certo que não sou o único com ideias revolucionárias e pensamentos existencialistas desta natureza, portanto não vou estender mais o meu raciocínio.

Num acto de demência momentânea, apetece-me arrancar a alma ao ser pensante, e com as mãos gastas e esfoladas, amarrotá-la e guardá-la no bolso, retendo de imediato qualquer ímpeto da mesma, qualquer tentativa mais do que decidida de se mostrar de novo ao que ela pensa ser um mundo sincero.
Vontade extrema de me restringir ao superficial com toda a gente, remetendo as lágrimas, desabafos estridentes e convulsões desesperadas, para o canto aconchegado da madrugada.

Tudo à minha volta assemelha-se tão asbtracto e vazio. Distante, num paradoxo ideal, cavei um fosso entre mim e vocês.

Etiquetas:

 
pelo Miguel às 10:23 da tarde | aqui | 8 comments